“O “multitasking” da mulher, distingue-a!”

 
Ser mulher, na investigação, é um desafio?
 
Qualquer profissão é um desafio e requer muita organização e acima de tudo escolhas (não somos nem super-mulheres nem super-homens), pelo que a investigação não foge a essa regra e no caso de ser mulher independentemente de ser investigação ou outra profissão qualquer é sempre um desafio, em especial no caso de se constituir família. Mas como costumo dizer quem corre por gosto não cansa, e mesmo sendo a investigação uma profissão bastante exigente, em especial se quiser estar sempre na “crista do conhecimento”, aí sim é mesmo um desafio, mas não pelo facto de ser mulher. Hoje em dia é mais difícil fazer investigação por exemplo, em Portugal, devido ao conjunto de regras que bloqueiam quem quer trabalhar e consegue acima de tudo financiar os laboratórios de investigação com verbas fora do orçamento de estado e extremamente competitivas, como é o caso dos projetos europeus e, em particular, as bolsas financiadas pelo Conselho Europeu de Investigação, isto sim é que é um grande desafio e, por outro lado, um  grande desgaste uma vez que o país não está a tirar o melhor partido do que melhor se faz em investigação em Portugal.
 
Recentemente conseguiu um Advanced Grants ERC. Considera que a paixão e a sensibilidade própria da mulher contribui, em grande escala, para o seu sucesso na área da Ciência e da Investigação?
 
Não gostaria de colocar a questão dessa forma. Acho sim que na área da investigação os detalhes são mais importantes que tudo o resto, pois na maioria dos casos é o detalhe que faz com que uma descoberta seja feita ou não, tenha sucesso ou simplesmente seja descontinuada. Penso que isso não é uma coisa que se possa dizer mais feminina, temos homens e mulheres de elevada qualidade na investigação científica em termos internacionais e não penso que esteja relacionado com o género. Há uma coisa que as  mulheres fazem melhor que os homens (em termos médios claro) que é a capacidade de “multitasking”, isso é sim uma vantagem e que se for explorada também em termos profissionais acaba por se revelar numa preciosa. Podemos eventualmente ter áreas científicas que sejam mais apelativas para um determinado género, mas depende acima de tudo da personalidade de cada pessoa, da capacidade de se interrogar, de nunca estar satisfeito, querer sempre mais, ter uma paixão viciante, eu costumo dizer que os investigadores são como os artistas, nunca estão satisfeitos, querem fazer sempre mais e melhor.
 
No seio das organizações, as mulheres podem ser elementos fundamentais para atingir  níveis de excelência?
 
Neste caso em concreto acho que sim, as mulheres são fundamentais em qualquer organização e isso tem de ser mais valorizado, pois como se pode constatar e, mais uma vez, em todas as profissões as mulheres apresentam percentagens bastante inferiores quando se comparam cargos de chefia, ainda é muito difícil atingir o topo em especial quando falamos de organizações com chefias maioritariamente masculinas. Penso que isso está a mudar pois também se tem observado, ultimamente, mais incentivos para que isso aconteça, quer por parte da sociedade em geral quer também por decisão das próprias mulheres. É uma questão de tempo. Representamos 50% da população, não há razão para que esse número não esteja alinhado com tudo o resto e mais, costumo dizer que trabalho em equipa é fundamental (a frase não é minha mas adapta-se bem): “Se quiseres chegar depressa vai sozinho, se quiseres chegar longe vai acompanhado".