Nova Espécie Fóssil encontrada em Moçambique revela novos dados sobre os antepassados dos mamíferos

Nova Espécie Fóssil encontrada em Moçambique revela novos dados sobre os antepassados dos mamíferos
Na província do Niassa, em Moçambique, foi descoberta uma nova espécie e novo género de vertebrado fóssil. Esta espécie agora extinta pertencia a um grupo de animais chamado sinapsídeos. Este grupo evolutivo inclui, para além de vários animais extintos, todos os mamíferos actuais e dominava os continentes no final do Pérmico (há 256Ma). Uma equipa de investigadores de várias instituições e nacionalidades, incluindo Rui Martins, colaborador do CENIMAT/I3N, descreveu este fóssil na revista PLoS ONE. Utilizando técnicas de micro-tomografia computorizada com recurso a radiação de sincrotrão foi possível compreender novos detalhes na anatomia dos sinapsídeos basais bem como a suas implicações para os ancestrais dos mamíferos. O fóssil agora publicado foi batizado de Niassodon mfumukasi. O seu nome significa na língua local (Chiyao): a rainha do lago Niassa. Torna-se assim uma homenagem à sociedade matriarcal Yao, à mulher Moçambicana e à beleza do Lago Niassa.
O Niassodon mfumukasi é o primeiro novo género (e espécie) de vertebrado fóssil de Moçambique e o seu holótipo (espécime tipo) é um raro exemplo de um sinapsídeo basal com o crânio e parte do resto do esqueleto preservados em conjunto. Através dos dados digitais recolhidos foi possível isolar individualmente todos os ossos presentes, tendo sido proposto um código de cores topológico, codificado matematicamente, para os ossos cranianos. Este código permitirá aos investigadores de agora em diante estandarizar as cores associadas a cada osso em animais semelhantes. Ao mesmo tempo o trabalho estabelece uma base comparativa das características do cérebro e do ouvido interno nos sinapsídeos, já que, apresenta uma descrição detalhada da neuroanatomia de um sinapsídeo basal (incluindo cérebro, ouvidos internos, nervos e vasculatura craniana).
O trabalho de campo decorreu em Moçambique em 2009 com o apoio do Museu Nacional de Geologia (MNG). A sua limpeza e estudo decorreu nos laboratórios do Museu da Lourinhã (ML) e do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) em colaboração com a Southern Methodist University (SMU), sendo que as experiências de tomografia foram realizadas nas instalações do sincrotrão alemão localizado em Hamburgo (DESY-HZG).

Este estudo enquadra-se no Projecto PalNiassa, liderado por Rui Castanhinha (IGC e ML), Ricardo Araújo (SMU e ML) e Luís Costa Júnior (MNG), um programa científico multidisciplinar fruto de cooperação internacional com o objectivo de descobrir, estudar e preservar o património paleontológico moçambicano. O fóssil encontra-se temporariamente no Museu da Lourinhã onde poderá ser visto pelo público, sendo que, está já planeado o seu regresso a Moçambique no próximo ano para que possa incorporar as coleções do MNG em Maputo.

Mais informação sobre o Projecto PalNiassa:
www.palniassa.org

O artigo está disponível através do seguinte link:
http://www.plosone.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0080974
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Título original do artigo:
Bringing dicynodonts back to life: paleobiology and anatomy of a new emydopoid genus from the Upper Permian of Mozambique

Tradução proposta:
Trazendo dicinodontes de volta à vida: paleobiologia e anatomia de um novo emidopóide do Pérmico Superior de Moçambique

Lista completa dos autores e afiliações, pela ordem que constam no artigo:
Rui Castanhinha1, 2+, Ricardo Araújo2, 3+, Luís C. Júnior4, Kenneth D. Angielczyk5, Gabriel G. Martins6, Rui M. S. Martins2, 7, 8, 9, Claudine Chaouiya1, Felix Beckmann10 and Fabian Wilde10

1 Instituto Gulbenkian de Ciência, Oeiras, Portugal.
2 Museu da Lourinhã, Lourinhã, Portugal.
3 Huffington Department of Earth Sciences, Southern Methodist University, Dallas, Texas, United States of America
4 Museu Nacional de Geologia, Maputo, Moçambique.
5 Integrative Research Center, Field Museum of Natural History, Chicago, Illinois, United States of America.
6 Centro de Biologia Ambiental, Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal. Current address: Instituto Gulbenkian de Ciência, Oeiras, Portugal.
7 Campus Tecnológico e Nuclear, Instituto Superior Técnico, Bobadela, Portugal. 
8 Centro de Investigação em Materiais, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa, Caparica, Portugal.
9 Centro de Física Nuclear da Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal.
10 Helmholtz-Zentrum Geesthacht, Geesthacht, Germany.
+These authors contributed equally to this work


Anexo1: Ilustração de Fernando Correia, créditos: "© Fernando Correia, dbio/UAveiro"
A ilustração representa uma fêmea da espécie Niassodon mfumukasi no seu ambiente natural no final do Pérmico (há 256 Ma).